terça-feira, 25 de outubro de 2011

Sem medo de passar pelo fogo

"A transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa — voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.

Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.

Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.

Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão — sofrimentos cujas causas ignoramos.Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.

Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: PUF!! — e ela aparece como outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado.

Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.

Ignoram o dito de Jesus: "Quem preservar a sua vida perdê-la-á". A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo a panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.

Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira...

"Nunca imaginei que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu".

O texto acima foi extraído do jornal "Correio Popular", de Campinas (SP), onde o escritor mantém coluna bissemanal.
Rubem Alves: tudo sobre sua vida e sua obra em "Biografias".

domingo, 18 de setembro de 2011

Feliz pelo outro

O post de hoje tem a honra de levar até você, resumidamente, um sonho...


O sonho de um menino que virou homem, cresceu e se despediu de uma fase para mergulhar em outra de tamanha exigência e dedicação capaz de surpreender a muitas pessoas. Aliás, não só surpreendeu, ensinou-nos que com garra, determinação, força de vontade e muito trabalho, conseguimos chegar bem perto dos nossos sonhos. Este menino é o MEU irmão, aquele do qual me orgulho e vibro intensamente por cada novo passo que é dado na sua vida.
Formado em Educação Física e especialista em treinamento desportivo, em agosto deste ano ele abriu o seu próprio negócio. Mesmo tendo algumas decepções e desânimos no percurso, ao seu lado teve pessoas que fizeram toda a diferença para que, enfim, depois de mais de 1 ano de planejamento, pesquisas e metas para cumprir: nasceu a Top Fitness! Uma academia de ginástica que prioriza o atendimento personalizado e de qualidade.

Parabéns Ti, muito sucesso e realizações nesta nova etapa que se inicia!
Desejo do fundo do meu coração que eu possa participar e vivenciar contigo todas as conquistas que ainda virão no teu caminho!!

 És merecedor e protagonista dessa porção ( generosa ) de felicidade!!!!

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Ao meu pai


O dia dos pais se aproxima e, apesar se saber que todo o dia é dia de pai e mãe, acho bonito que tenhamos um dia do ano para refletirmos a sua importância em nossas vidas. 
Tenho procurado a memória mais antiga de meu pai e encontrei algo lá pelos anos 85 ou 86, tinha 3 ou 4 anos. No domingo pela manhã a passagem pela cama dele era certa. Lá ficava de bobeira cochilando, brincando e escutando as histórias dele. Ou era a história de como ele fazia pra acabar com a minhas cólicas de bebezinha, ou era a da formiguinha, ou era a do " rato que roeu a roupa do rei de Roma..."
Embora o pai tenha sempre trabalhado muito no táxi, o pouco tempo que ficava com a gente era  aproveitado ao máximo. Como esquecer a sua paciência ao ensinar-me a andar de bicicleta? E os temas da escola que fazíamos contando feijões, canetas... Também plantávamos, na horta ao lado de casa, moranguinhos, cenouras e cortávamos a grama do pátio.
Foram inúmeras às vezes que participava das corridas do táxi. Até quando eram quatro passageiros, ele sempre dava um jeitinho de me levar porque eu queria mesmo era uma carona pra ir pra casa de carro. Impossível esquecer a brincadeira do passa anel com os colegas taxistas e os pastéis, coxinhas e balas das lancherias da rodoviária.
Sempre me achei muito importante por poder chegar nos lugares no táxi do meu pai porque muitas das minhas amiguinhas, os pais não tínham carro.
Pai sempre tem a imagem de " super herói " e o meu não era diferente. Admirava a sua coragem e força em apanhar os sapos gigantes que apareciam lá em casa e sumiam através de uma voadeira dada por uma pá de concha. E os pobres dos ratinhos mortos junto a lindos pedaços de queijo? Achava incrível a sua frieza em armar as ratueiras.
Me orgulho do meu pai ter vencido na vida e nos ensinado o valor das coisas, das pessoas e do trabalho. Seus maiores exemplos são a generosidade, a paciência e a humildade.
Confesso que por muitas vezes gostaria de que tivéssemos ido mais vezes tomar banho de mar,  fazer castelinhos de areia e andar de roda gigante.
A história do esforço e trabalho do seu Silvio deixou pequenas brechas no tempo, tivemos a nossa convivência e os momentos inesquecíveis ficarão guardados em sete chaves. Os momentos que ficaram com um gostinho de quero mais provam sua existência e é por isso que não tenho do que reclamar, pelo contrário, tenho TUDO a agradecer. Não tenho palavras para agradecer a este homem vindo de família do interior que, quando moleque, vendia flores e ovos na Praia Grande para ajudar a família. Homem que estudou o primário em meio a muitas diversidades e dificuldades. Homem que desde cedo teve que abrir mão dos estudos e que acabou se acomodando na rotina do trabalho. Não por isso, menos inteligente. Um homem sensato e generoso. Raramente vimos ele comprar alguma roupa, ou perfume, ou acessório, ou bobagem para si. Primeiro filhos, depois esposa e por útlimo trabalho... Ou seria o trabalho em primeiro? É agora me confundi. Guardo com carinho as lembranças das muitas vezes que dividíamos a barra de chocolate no sábado a noite, a espuminha da cerveja e o xis do hospital no domingo a noite.  Ah, quantas madrugadas que nem víamos ele chegar. Pai trabalhador ao extremo e teimoso por natureza. Teimosia tamanha que presenciamos muitas brigas, como por exemplo a da construção do apartamento, mas também alguns acertos na loteria.


Pai, continue sempre assim, do seu jeito, a sua maneira, com seus defeitos e suas qualidades, porque te conhecemos dessa forma, e se houver qualquer mudança, saberemos que algo não está no devido lugar. Um amoroso "uuuuupahh" bem forte e bem grande.

domingo, 31 de julho de 2011

O deserto de uma mãe orfã...


Depois de ter perdido minha filha pela HDC, espantei-me com a quantidade de mulheres que conheci por todos os cantos do país. Elas passaram pelo mesmo problema, pelas mesmas angústicas, algumas histórias com finais felizes e muitas de finais desastrosos, como a minha.
Quando essas coisas acontecem, nos pegam de surpresa e nos maltratam... Buscamos incansavelmente um alguém que tenha passado por algo parecido para que possamos compartilhar a dor, nova e inevitável. Pensamentos, suposições e incertezas tomam conta das mães que não se cansam de imaginar como poderia ter sido diferente e perguntam-se inúmeras vezes o porque de terem sido escolhidas a passar por enorme tristeza. Aprendemos pela pior das formas que Deus não é justo, pois enquanto muitas mulheres desejam com grande fervor tornarem-se mães, outras tantas abandonam, ou matam seus filhos.
Há quem prefira o silêncio para viver a sua dor, inimaginávelmente ignorando-a como forma de fugir da realidade. Entramos num deserto após a perda de um filho e por lá, oras pensamos em ficar, oras em sair. Há neste lugar um misto de desejos incontroláveis com suas peculiaridades. Enquanto recriamos a nossa maneira de enfrentá-lo, diversas vozes que não queremos escutar surgem de todas as direções. Somos obrigadas a aceitar discursos pré prontos repletos de boas intenções, afinal não há muito o que se fazer quando as pessoas se deparam com uma mãe orfã de filho.   
Entretanto, acredito que cabe a nós decidirmos com quem vamos compartilhar este deserto. Através do diálogo e da cumplicidade com o outro é que nos tornamos mais fortes e capazes de realizar travessias perigosas por dias de tempestades. A cada dia juntos nos fortalecemos e preparamos para os raios de sol, sim, dias claros e bonitos certamente virão, apesar de acompanhados da incerteza de quanto tempo permanecerão.

Obrigada a todas as mamães que compartilharam sua história, a todos os amigos e familiares e principalmente ao meu grande amor, Ricardo.